4 de agosto de 2011

Mamãe, mataram o Deus!!!

Faz um tempinho, eu vivi uma experiência que gostaria de compartilhar.

Era Páscoa e fui para a casa de uma irmã no interior de SP, junto com meu filho. No fim de semana, minha irmã pedei se poderia levar meu filho com ela à igreja. Apesar de não ser cristã, não proibo meu filho de conhecer diferentes religiões, afinal, eu o ensino a conviver e respeitar as diferenças, fora que ele estava com a minha irmã, uma pessoa de minha total confiança.

E lá foram eles todos contentes e eu, fiquei em casa aproveitando aquele tempinho de sossego!

Volta o Lorenzo com olhos arregalados, totalmente chocado e me falando:

"Mamãe, mataram o Deus!!!"

Eu, que estava sonolenta, levantei num pulo!

"O quê meu filho???"

"É mãe, eu vi! Eles pegaram o Deus, bateram até tirar sangue, machucaram ele e ainda colocaram ele pendurado numa cruz até ele morrer!"

Eu fiquei ali chocada com o choque do meu filho. Minha irmã me explicou que teve uma peça teatral na igreja da "Paixão de Cristo" e o Lorenzo, ficou horrorizado com o que viu.

Então, sentei meu filho do meu lado e fui explicar a diferença de crenças, mas não foi fácil ele aceitar.

Ele me questionava os motivos que as pessoas teriam para maltratar aquele que elas mesmas gostavam... Então, expliquei que aquele não era Deus, era Jesus, mas pra ele era quase a mesma coisa... E ele me falava:

"Mamãe, se ele era tão bom como as pessoas diziam, porque o mataram? Não é certo maltratar uma pessoa que amamos, que é boa, que faz o bem! Você me disse que temos que ser educados com os outros. Por que não foram educados com ele? Por que fizeram tudo aquilo com ele? Não se pode matar alguém que é bom!"

"Filho, eu sei disso. Mas essas pessoas acreditam em Deus e nas coisas de forma diferente. Deus está vivo sim, fica tranquilo. Quanto à Jesus... Bom, nós não acreditamos nele da mesma forma e o que fizeram com ele faz parte do que essas pessoas acreditam... Nós podemos não gostar, mas temos que respeitar essa diferença. Assim como eles, também tem que respeitar o que acreditamos. Quando vc crescer mais um pouquinho, você vai entender melhor."

Então, o meu filho me olhou e disse:

"Mãe, eu tenho pena de Jesus."

Vi no meu filho a indignação da salvação através da morte. Me vi numa situação complicada, de tentar fazer uma criança entender que aquele ato, foi necessário para os cristãos, pois tudo que eu lhe ensino é que temos que viver com amor, respeito, que Deus está em nós, vivo. Isso sem falar que ainda existe várias faces de Deus, existe a Deusa. Explicar para uma criança pagã a morte de Cristo não é tarefa nada fácil. Mas, seu eu quero que o meu filho respeite e conviva em harmonia com as diferenças religiosas, é necessário.

Até hoje, o Lorenzo não entende e não aceita que se possa matar alguém para se livrar dos pecados. Assim como eu o ensinei, ele acredita que somos nós responsáveis por nossos atos e as consequências dele, sem precisar punir ninguém.

Fiquei um pouco por ele ter tido contato com uma história tão triste e violenta, que o deixou indignado... Mas por outro lado, fiquei orgulhosa por perceber que sutilmente, ele não aceita qualquer idéia com verdade absoluta, que ele questiona, avalia!

Assim como toda mãe, eu só quero que o meu filho viva bem neste mundo. Não o crio alienado dentro de tudo o que acredito, permito que ele conheça e avalie outras culturas, para no futuro saber fazer suas escolhas, respeitando as escolhas dos outros.

Mas uma coisa, que é ensinado universalmente á todos nós quando crianças e em qualquer religião, é o amor ao próximo. Amar o outro como à si mesmo... E pra finalizar, meu filho me questionou sobre isso:

"Mãe, se temos que amar os outros... Então, eles não amaram Jesus."



*Não quero criar conflito algum, pois como já afirmei, respeito todas as manifestações religiosas. É apenas uma experiência de mãe, que tem sim uma religião diferente das demais, que cria se filho para um mundo de diferenças as vezes cruéis e ditatorias, mas que de forma alguma, vai privá-lo do conhecimento de qualquer origem. Se eu quero que meu filho seja um homem de bem, eu cuido para que ele saiba fazer o bem. Não existe melhor forma de fazer o bem exercitando o respeito ás diferenças.*

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